sábado, 22 de setembro de 2012

Não sei, só sei que foi assim!


     A terra ardia como fogueira de São João. Chão vermelho. Não há muita vida por perto. Uns calangos aqui, uns cactos ali. E ele. Com suas sandálias já gastas, queimado de sol, as cicatrizes no rosto e na alma. Carregava uma garrafa de pinga pela metade, mas seu passo era firme, o andar reto, sem desviar de seu alvo.
     Ia armado. Carabina na mão, e ódio no coração. Era matador imperdoável. Não errará um tiro nos últimos 27 anos, 5 meses, e 3 dias, fazia questão de lembrar a todos. Palitava o dente com a faca que rasgava a barriga de safado que lhe desafiasse. Sangue nos zóio.
     Já eram quase 11 da manhã, o sol não mentia. Enxuga a testa e avista aquela casinha branca, com uma cruz em cima da porta. Hoje o safado ia ter o que merecia. 8 anos de procura. Ele nem acreditava. O último cabra que o enganara e saíra vivo, hoje pagaria sua conta com sangue.
     Jucelino, o matador. Cara de vida dura. Órfão de pai aos 10, de mãe aos 15. Oito irmãos, 3 mulheres e cinco homens. Era o mais velho. Com 17 anos já havia matado 15  na facada e 3 com tiro. Sabia fazer conta como poucos, ai de quem tentasse lhe enganar.
     Respirava ares de morte durante toda a vida. Tudo começou aos 11 anos de idade, quando vingou a morte do pai, que fora assassinado numa disputa de terra. Sua fama corria todo o sertão. Era fácil reconhecer, do alto dos seus 1,90, era o maior da região, rosto queimado de sol, braços fortes, coração duro, isso se ainda existisse um. Não abria um sorriso. Só quando matava alguém, ou ouvia uma música do Wando.
     Ele está parado na porta. Dentro da casinha muitos bancos, 10, 11 pessoas, não se lembra ao certo. O desgraçado que lhe fizera de bobo está na primeira fileira, de frente pro senhorzinho dos cabelos brancos, que fala algo com uma bíblia na mão.
     Sou bruto, mas educado, lembra-se Jucelino. Não iria abrir um buraco do tamanho de uma laranja na cabeça do infeliz, no meio de todo aquele povo inocente. Talvez esteja ficando mole. Nunca saberemos.
     É tanto sol, que ele entra. Sem fazer barulho se senta numa cadeira no fundo, canto da casa, sem que ninguém o veja. Encosta a arma na parede, esta um pouco tonto por causa da pinga e do calor, mas logo se recupera.
     Meio sem querer, meio por curiosidade começa a prestar atenção no que aquele senhorzinho fala.
     Tá contando uma história. Gosto de histórias. Era a história de um homem, que andava por aí, num lugar meio seco, que vivia matando gente, respirava ares de morte. Cabra macho. Eita, que coisa de doido. O cara vê Jesus, fica cego, pare de ser caçador e vira caça. Arre, e ainda fica feliz com isso? Mudou de vida. Não precisa mais matar. Não é que esse Jesus é forte mesmo? Será, será que...
     Nesta hora o homenzinho de cabelos brancos para de falar, há alguém em prantos na sala. Num canto da sala, do lado de uma arma, joelho no chão, cabeça baixa, molhando o chão com suas lágrimas. Todos se viram pra ele, que tenta falar algo, mas só chora.
     Alguns minutos depois, com os olhos ainda cheios d’água, no meio de todo mundo, meio sem graça, pede pra aquele homem, de palavras tão simples, mas tão fortes, pra conhecer esse Jesus. “Se esse tal de Cristo mudou a vida desse cabra Paulo aí, Ele muda a minha também”. E ninguém acreditava. Um milagre.
     E foi assim meu povo, essa é a história de como com uma conversão duas vidas foram salvas, a de Jucelino, e a do infeliz, que agora é mais que feliz, que ia ser morto. E dizem que depois de tudo, no caminho de volta, Jucelino, não mais matador, sem saber como se expressar, cantava a musica de amor que sabia:
“Você é luz, raio, estrela e luar. Manhã de Sol, meu Iaiá, meu Ioiô.”



Imagens retiradas da bíblia do matuto by Rayan Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela visita, que você possa ser CHEIO DO ESPÍRITO SANTO e transbordar nesse agir =)